Como
podes comprar ou vender o céu, o calor da terra? Tal idéia
nos é estranha. Se não somos donos da pureza do ar ou do resplendor
da água, como então podes comprá-los?
Cacique
Seattle
O texto a seguir foi retirado do site da UFPa
Em
1854, o presidente dos Estados Unidos propôs comprar uma grande área
de terra dos índios peles-vermelhas, prometendo uma reserva para que
nela eles pudessem viver. A resposta do Cacique Seattle é tida como
uma profunda declaração de amor ao Meio Ambiente, brotada do
coração puro e simples de um índio cheio de reconhecimento à
Natureza por tudo de bom que ela dá ao homem. Eis a resposta:
A
"CARTA" DO CACIQUE SEATTLE
Introdução:
o cenário histórico
A
equipe de Floresta Brasil fez uma pesquisa sobre a história da carta
que o cacique Seattle teria mandado ao presidente norte-americano
Franklin Pierce, em 1854, em resposta à proposta deste último de
comprar terras que até então tinham “pertencido” à sua tribo.
Antes
de continuarmos, parece oportuno observar que a palavra “chief”,
da língua inglesa, tem como correspondente na língua portuguesa a
palavra “cacique”. Assim, se estivermos falando português,
parece mais adequado nos referirmos à personalidade que teria
escrito a carta como “cacique Seattle”, e não "chefe
Seattle".
Um
outro aspecto que resultou de nosso estudo é que descobrimos, para
nossa surpresa, que é possível encontrar várias versões dessa
"carta". O que imediatamente traz a dúvida: Qual das
versões seria a “carta” verdadeira? Pois bem, continuando a
pesquisa, descobrimos que muito provavelmente o cacique Seattle
jamais escreveu carta alguma com o conteúdo que lhe é atribuído,
ao presidente Franklin Pierce.
O
que terá acontecido então?
Pois
bem: segundo as fontes que pesquisamos, os índios Duwamish habitavam
a região onde atualmente se encontra o estado de Washington - no
extremo Noroeste dos Estados Unidos, fazendo divisa com o Canadá. E
a famosa "carta" parece ter sido, na verdade, um texto
publicado em um jornal local baseado na inspirada reflexão que o
cacique Seattle fez para sua tribo, reunida naquele deslumbrante
cenário natural, sobre as relações do homem com a Natureza, em
resposta à proposta presidencial, de compra de terra, trazida
pessoalmente pelo recém-chegado encarregado de assuntos indígenas
do governo norte-americano.
O
primeiro registro conhecido sobre a fala do cacique Seattle parece
ser um artigo publicado pelo Dr. Henry Smith, no Jornal Seattle
Sunday Star, em 1887. O Dr.Smith teria estado presente quando do
pronunciamento do Grande Cacique, tendo o texto do artigo se baseado
nas anotações que seu autor teria feito na ocasião do discurso.
Para
uma melhor compreensão do discurso em si um discurso cujo conteúdo
e cujas palavras ainda hoje, passado mais de um século, soam tão
sábias e profundas - resolvemos oferecer aos interessados no assunto
2 (dois) textos:
-
o primeiro texto traz a impressionante descrição que o Dr. Smith
fez sobre o local onde o fato ocorreu, sobre a atitude dos ouvintes -
de profundo silencio e atenção e, mais impressionante ainda, sobre
a forte, solene e carismática personalidade do orador e, finalmente,
sobre a forma com que a fala foi proferida. De fato, o cenário
descrito faz com que nos perguntemos se aquele não foi um daqueles
raros e mágicos momentos da história da humanidade em que um
coração forte, sensível e inspirado, consegue verbalizar palavras
que chegam fundo no coração de outros homens. Mesmo que estes
outros homens, como nós, tomem conhecimento daquelas palavras muitos
e muitos anos depois... Confirmando o que disse Seattle: “Minhas
palavras são como as estrelas, que não empalidecem”
-
o segundo texto é o pronunciamento do cacique propriamente dito. A
versão que apresentamos é a tradução de uma das mais famosas
versões divulgadas durante a década de 70. A foto do Grande Cacique
Seattle (1787-1866) é de autoria de E.M.Sammis: seu original
encontra-se na “Special Collection” da Universidade de
Washington, sob o nº NA 1511. Ambos
os textos, do artigo do Dr. Henry A. Smithe e do pronunciamento em
si, foram obtidos, em inglês, no site:
O
texto do artigo do Dr. Henry Smith, que se encontra logo abaixo, foi
traduzido pela equipe de Floresta Brasil diretamente do artigo
original, publicado em inglês em 1887, que se encontra na seção em
língua inglesa de nossa página (http://www.florestabrasil.org.br).
"O
velho cacique Seattle era o maior índio que eu jamais havia visto. E
o que tinha aparência mais nobre. Em seus mocassins, ele media mais
de 1,80m, ombros largos, tórax amplo e traços finos. Seus olhos
eram grandes, inteligentes, expressemos e amigáveis quando em
repouso, e espelhavam fielmente os variados estados de espírito da
grande alma que olhava através deles. Normalmente ele era solene,
calado e digno, porém nas grandes ocasiões movia-se na multidão
como um Titã entre Liliputianos, e o que dissesse era lei.
Quando
se levantava para falar, em reuniões, ou para oferecer conselho,
todos os olhos se voltavam para ele, e então frases profundas,
sonoras e eloqüentes fluíam de seus lábios assim como trovões de
cataratas fluindo continuamente de fontes inexauríveis. Suas
diretrizes soavam tão nobres como teriam soado aquelas do mais
cultivado chefe militar que estivesse no comando das forças de todo
o continente. Nem sua eloqüência, nem sua dignidade ou sua graça
haviam sido adquiridas. Elas eram tão próprias da sua personalidade
quanto as folhas e as flores o são em um pessegueiro em flor.
Sua
influência era maravilhosa. Ele poderia ter sido um imperador, mas
todos os seus instintos eram democráticos, e ele comandava os seus
leais cidadãos com suavidade e com paternal benignidade.
Ele
sempre era alvo de especial atenção pelo homem branco,
principalmente quando sentado à sua mesa. Era nessas ocasiões que
ele demonstrava, mais do que em qualquer outro lugar, o cavalheirismo
que lhe era genuíno. Assim que o Governador Stevens chegou em
Seattle e disse aos nativos que tinha sido indicado com comissário
para assuntos indígenas para o território de Washington, estes lhe
prepararam recepção frente dos escritórios do Dr. Maynard's, na
margem próxima da Rua Principal - Main Street. A baía enxameava de
canoas enquanto a margem esta tomada por uma morena e movimentada
massa humana. Quando o timbre de trombeta da voz do velho cacique
espalhou-se sobre a imensa multidão como o rufar de um tambor,
formou-se um silêncio tão instantâneo e perfeito como aquele que
segue o crack do trovão em um céu limpo.
Sendo
então apresentado à multidão nativa pelo Dr. Maynard, em um tom
conversacional, direto e objetivo, o Governador deu imediatamente
início a uma explanação sobre sua missão, que é conhecida demais
para que requeira recapitulação.
Quando
ele se sentou, o cacique Seattle levantou-se com a dignidade de um
senador que carrega em seus ombros a responsabilidade sobre uma
grande nação.
Colocando
uma mão sobre a cabeça do Governador, e lentamente apontando para o
céu com o dedo indicador da outra, em tom solene e impressionante,
começou seu memorável pronunciamento.
Carta com tradução livre
"O Grande Chefe de Washington mandou dizer que deseja comprar nossa terra. O Grande Chefe assegurou-nos também de sua amizade e sua benevolência. Isto é gentil de sua parte, pois sabemos que ele não necessita da nossa amizade. Porém, vamos pensar em tua oferta, pois sabemos que se não o fizermos o homem branco virá com armas e tomará nossa terra. O Grande Chefe em Washington pode confiar no que o chefe Seattle diz, com a mesma certeza com que os nossos irmãos brancos podem confiar na alteração das estações do ano. Minha palavra é como as estrelas. Elas não empalidecem. Como podes comprar ou vender o céu - o calor da terra? Tal idéia nos é estranha. Nós não somos donos da pureza do ar ou do resplendor da água. Como podes comprá-los de nós? Decidimos apenas sobre o nosso tempo. Toda esta terra é sagrada para o meu povo. Cada uma folha reluzente, todas as praias arenosas, cada véu de neblina nas florestas escuras, cada clareira e todos os insetos a zumbir são sagrados nas tradições e na consciência do meu povo.
Carta com tradução livre
"O Grande Chefe de Washington mandou dizer que deseja comprar nossa terra. O Grande Chefe assegurou-nos também de sua amizade e sua benevolência. Isto é gentil de sua parte, pois sabemos que ele não necessita da nossa amizade. Porém, vamos pensar em tua oferta, pois sabemos que se não o fizermos o homem branco virá com armas e tomará nossa terra. O Grande Chefe em Washington pode confiar no que o chefe Seattle diz, com a mesma certeza com que os nossos irmãos brancos podem confiar na alteração das estações do ano. Minha palavra é como as estrelas. Elas não empalidecem. Como podes comprar ou vender o céu - o calor da terra? Tal idéia nos é estranha. Nós não somos donos da pureza do ar ou do resplendor da água. Como podes comprá-los de nós? Decidimos apenas sobre o nosso tempo. Toda esta terra é sagrada para o meu povo. Cada uma folha reluzente, todas as praias arenosas, cada véu de neblina nas florestas escuras, cada clareira e todos os insetos a zumbir são sagrados nas tradições e na consciência do meu povo.
Sabemos
que o homem branco não compreende o nosso modo de viver. Para ele um
pedaço de terra é igual a outro. Porque ele é um estranho que vem
de noite e rouba da terra tudo quanto necessita. A terra não é sua
irmã, mas sim sua inimiga, e depois de explorá-la, ele vai embora.
Deixa para trás o túmulo do seu pai, sem remorsos de consciência.
Rouba a terra dos seus filhos. Nada respeita. Esquece as sepulturas
dos antepassados e os direitos dos filhos. Sua ganância empobrecerá
a terra e vai deixar atrás de si os desertos. A vista de tuas
cidades é um tormento para os olhos do homem vermelho. Mas talvez
isto seja assim por ser o homem vermelho um selvagem que nada
compreende.
Não se pode encontrar paz nas cidades do homem
branco. Nem um lugar onde se possa ouvir o desabrochar da folhagem na
primavera ou o som das asas dos insetos. Talvez por ser um selvagem
que nada entende, o barulho das cidades é para mim uma afronta
contra os ouvidos. E que espécie de vida é aquela em que o homem
não pode ouvir a voz do corvo noturno ou a conversa dos sapos no
lago à noite?
Um indígena prefere o suave sussurro do vento
sobre o espelho d'água e o próprio
cheiro do vento, purificado pela chuva do meio-dia e com aroma de
pinho. O ar é precioso para o homem vermelho, porque todos os seres
vivos respiram o mesmo ar: animais, árvores, homens. Não parece
que o homem branco se importe com o ar que respira. Como um
moribundo, ele é insensível ao mau cheiro.
Se eu me decidir
a aceitar, imporei uma condição. O homem branco deve tratar os
animais como se fossem irmãos. Sou um selvagem e não compreendo que
possa ser certo de outra forma. Vi milhares de búfalos a apodrecer
nas pradarias abandonados pelo homem branco, que os abatia a tiros
disparados do comboio. Sou um selvagem e não compreendo como um
cavalo de ferro possa ser mais valioso do que um búfalo que nós,
indígenas, matamos apenas para sustentar a nossa própria
vida. O que é o homem sem os animais? Se todos os animais acabassem,
os homens morreriam de solidão espiritual, porque tudo quanto
acontece aos animais pode afetar os homens. Tudo está relacionado
entre si. Tudo quanto fere a terra fere também os filhos da terra.
Os nossos filhos viram seus pais humilhados na derrota. Os
nossos guerreiros sucumbem sob o peso da vergonha. E depois da
derrota passam o tempo em ócio, e envenenam o corpo com alimentos
doces e bebidas ardentes. Não tem grande importância onde
passaremos os nossos últimos dias, eles não são muitos. Mas
algumas horas, até mesmo uns Invernos, e nenhum dos filhos das
grandes tribos que viveram nesta terra ou que tem vagueado em
pequenos bandos nos bosques, sobrará para chorar sobre os túmulos.
Um povo que um dia foi tão poderoso e cheio de confiança como o
nosso.
De uma coisa sabemos que o homem branco talvez venha
um dia a descobrir: o nosso Deus é o mesmo Deus. Julgas, talvez, que
O podes possuir da mesma maneira como desejas possuir a nossa terra.
Mas não podes. Ele é Deus da humanidade inteira. E quer o bem
igualmente ao homem vermelho como ao branco. A terra é amada por
Ele. E causar dano à terra é demonstrar desprezo pelo seu Criador.
O homem branco também vai desaparecer, talvez mais depressa do que
as outras raças.
Continua a poluir a tua própria
cama e hás de morrer uma noite, sufocado nos teus próprios
dejetos! Depois de abatido o último búfalo e domados todos os
cavalos silvestres, quando as matas misteriosas federem à gente, onde ficarão então as florestas? Terão acabado. E as águias?
Terão ido embora. Restará dizer adeus à andorinhas da torre, à
caça do fim da vida e o começo da luta para sobreviver...
Talvez
compreenderíamos se conhecêssemos com que sonha o homem branco, se
soubéssemos quais esperanças transmite a seus filhos nas longas
noites de Inverno, quais visões do futuro oferece às suas mentes
para que possam formar os desejos para o dia de amanhã. Mas nós
somos selvagens. Os sonhos do homem branco são ocultos para nós. E
por serem ocultos, temos de escolher o nosso próprio
caminho. Se consentirmos, é para garantir as reservas que nos
prometeste. Lá talvez possamos viver os nossos últimos dias
conforme desejamos.
Depois que o último homem vermelho tiver
partido e a sua lembrança não passar da sombra de uma nuvem a
pairar acima das pradarias, a alma do meu povo continuará a viver
nestas florestas e praias, porque nós as amamos como um
recém-nascido ama o bater do coração de sua mãe. Se te vendermos
a nossa terra, ama-a como nós a amávamos. Protege-a como nós a
protegíamos. Nunca esqueças como era a terra quando dela tomaste
posse. E com toda a tua força, o teu poder, e todo o teu coração
conserva-a para teus filhos, e ama-a como Deus nos ama a todos. Uma
coisa sabemos: o nosso Deus é o mesmo Deus. Esta terra é querida
por ele. Nem mesmo o homem branco pode evitar o nosso destino comum.
Quando a última árvore for cortada, quando
o último peixe for pescado, quando o último rio for poluído, Aí
sim eles verão que dinheiro não se come."
Mas ainda há tempo para mudar...
mas
até quando?
Ciência e Lógica
Fontes:http://www.ufpa.br/permacultura/carta_cacique.htm
http://www.portalentretextos.com.br/colunas/recontando-estorias-do-dominio-publico/a-carta-de-1854-do-cacique-seattle-ao-presidente-dos-estados-unidos-da-america,236,3237.html
http://www.erasmocarlos.com.br/letras/Mulher/acartadoindio.html
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