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Auto-organização da Vida


Mapa das Américas, criado pela formação de padrão de pixel com DNA, em uma nanoestrutura retangular de DNA. Escala do mapa: 1:2 x 1014
Crédito: Paul Rothemund.

Na postagem do dia 24/11/2011 está escrito: “A auto-organização molecular do universo após o big bang originou toda a natureza que nos cerca, mas como podemos intuir isto na atualidade qual indício leva-nos a essa conclusão? Imagine que tudo que nos é apresentado na atualidade surgiu de um conjunto de leis simples ou comandos a serem cumpridos. Então seriamos resultado da interação destas leis primordiais que cunharam toda a matéria do universo em um determinado momento?”.
Uma questão de auto-organização
Os seres vivos aqui da Terra são constituídos, principalmente, por átomos de carbono (C), hidrogênio (H), oxigênio (O) e nitrogênio (N). Estes átomos, combinados entre si, formam a base das moléculas biológicas. A água é a substância mais abundante na composição química de um ser vivo. No ser vivo as moléculas desempenham função estrutural e ou funcional. Os açúcares, proteínas, lipídeos, enzimas, hormônios. São fonte de energia, codificam, lêem, interpretam e executam mensagens. Todas as formas de vida atuais, com exceção dos vírus, são baseadas em células contendo pequenos pacotes de compostos químicos envoltos por membranas. Sendo a célula a unidade morfológica e fisiológica dos seres vivos, são constituídas por um sistema de membranas de natureza lipoproteica cuja função é: manter a individualidade celular, compartimentar, manter o equilíbrio eletrolítico, controlar a entrada e saída de substâncias e, portanto, suas interações com meio ambiente. Tem o citoplasma, constituído principalmente por água e proteína, preenchendo a célula, onde se encontram as organelas, responsáveis pelas principais atividades metabólicas das células. Mas existem evidências de que toda esta complexidade teria se originado por simples comandos?
A automontagem molecular é onipresente na natureza, e recentemente surgiu como uma nova abordagem na síntese química, nanotecnologia, engenharia e ciência de polímeros e materiais. Os sistemas de automontagem molecular estão na interface entre a biologia molecular, a química, a ciência de polímeros, a ciência de materiais e a engenharia. Supondo que as formas primitivas de vida tenham surgido em um processo de automontagem, ou seja, um sistema com uma aparente desordem nos componentes pré-existentes resulta em uma estrutura organizada, ou padrões de organização, como conseqüência de uma interação específica entre os próprios componentes, sem influência externa. Mas a questão é, existe algum experimento que possa nos levar a esta conclusão? Sim! Em uma experiência baseada na observação do comportamento de uma complexa mistura de materiais inorgânicos no interior de um plasma. O plasma é essencialmente o quarto estado da matéria, além do sólido, líquido e gasoso no qual os elétrons são arrancados dos átomos deixando para trás uma nuvem de partículas carregadas. Até agora os cientistas acreditavam não haver praticamente nenhuma organização nessa nuvem de partículas. Mas a equipe do Dr. V.N. Tsytovich, da Academia de Ciências de Moscou, na Rússia, descobriu que essas partículas podem passar por um processo de auto-organização à medida que as cargas eletrônicas se separam e o plasma se torna polarizado. O fenômeno resulta em fitas microscópicas de partículas sólidas que se torcem, assumindo o formato de um parafuso, formando uma estrutura helicoidal. Essas fitas helicoidais são elas próprias eletronicamente carregadas, o que faz com que se atraiam mutuamente. Mais do que  simplesmente se grudarem, essa espécie de DNA inorgânico pode se dividir, ou bifurcar, para formar duas cópias da estrutura original. Até hoje, esse comportamento só era associado a moléculas biológicas, como o DNA e as proteínas. Essas estruturas de plasma complexas e auto-organizáveis apresentam todas as propriedades necessárias para se qualificarem como candidatas para uma matéria viva inorgânica, diz Tsytovich. "Elas são autônomas, elas se reproduzem." O plasma não se forma apenas em condições especiais de laboratório. Ele está presente em inúmeras estruturas no espaço exterior. E está particularmente presente aqui mesmo na Terra, no ponto em que os relâmpagos atingem o solo. A descoberta aponta para a possibilidade da vida fora da Terra não necessariamente precisar de moléculas à base de carbono agora se pode cogitar a possibilidade de explicar como a vida surgiu aqui mesmo na Terra com a participação desses compostos que até agora não se imaginava poder desempenhar um papel importante no padrão vida.
Na natureza os princípios de automontagem levam a crescimento de cristais inorgânico e estruturas funcionais orgânicas. Como visto na Teoria da Vida no nosso universo ocorrem os seguintes padrões: Padrão não vida e o padrão vida, o primeiro rege a matéria inanimada e o segundo a vida.  No nosso planeta os sistemas biológicos têm uma organização que leva à compartimentalização e à concatenação dos processos, permitindo que as transformações ocorram de forma seqüencial, sem interferências e com alta eficiência. Como exemplo tem a fotossíntese, esse processo, que sustenta a vida em nosso planeta, tem lugar nos cloroplastos, nano máquina responsável pela produção do ATP (adenosina-trifosfato), o principal combustível dos organismos vivos. Esse processo biológico realizado pelas plantas e outros organismos, em que ocorre a transformação da energia luminosa em energia química, com o objetivo de suprir as necessidades metabólicas necessárias para o crescimento e reprodução destes seres vivos. Os organismos fotossintetizantes, ou seja, que realizam a fotossíntese captura a energia solar e a transformam-na em energia química na forma de ATP, molécula responsável pelo armazenamento de energia em suas ligações químicas, e de NADPH, uma importante coenzima presente nas células que participa de reações de oxi-redução, que são produtos originados da reação da energia solar com a clorofila presente nas folhas. Essas moléculas são usadas como fonte de energia para originar carboidratos (glicose) e outros componentes orgânicos a partir do CO2 atmosférico e H2O, que simultaneamente liberam O2 na atmosfera. Estes organismos podem posteriormente utilizar a energia armazenada nos carboidratos para produzir outras moléculas necessárias para a sua sobrevivência. Esses seres vivos que sintetizam o seu próprio alimento são chamados de seres autótrofos e correspondem à base da cadeia alimentar. Sendo assim o Sol e a fotossíntese é a fonte fundamental de quase toda a energia biológica. Se não houvesse fotossíntese, não haveria alimento para a grande maioria das formas de vida que não consegue sintetizar seu próprio alimento, então os heterótrofos como o homem e a maioria dos animais dependem dos seres autótrofos como fonte de alimento.
Origami de DNA
A Ciência já utiliza a propriedade de auto-organização na montagem do origami de DNA, onde as peças montam-se sozinhas, graças às propriedades complementares dos quatro pares de base do DNA. Os nucleotídeos chamados: A, T, C e G, interagem e conectam-se de acordo com uma fórmula simples seguindo as regras: A sempre se liga a T; C sempre se liga a G. As quatro letras representam os nucleotídeos Adenina, Citosina, Guanina e Timina. As moléculas orgânicas são facilmente manipuláveis podendo se auto-estruturar em um processo conhecido como automontagem, tal processo já é utilizado devido simplificar enormemente o processo de fabricação dos dispositivos. Um pesquisador do Instituto de Tecnologia da Califórnia (EUA) usou filamentos de DNA para criar complexas nanoestruturas 2D. A técnica de armação de andaimes formando origamis de DNA poderá ter aplicações no campo da biologia molecular para dispositivos semicondutores. Paul WK Rothemund disse: “Fabricação de Bottom”, que explora as propriedades intrínsecas dos átomos e moléculas para dirigir a sua auto-organização, é amplamente usada para fazer nanoestruturas relativamente simples. Um objetivo chave para esta abordagem é a criação de nanoestruturas de alta complexidade, combinando que rotineiramente realizado pelo método “top-down”. A automontagem de moléculas de DNA fornece uma rota atrativa para este objetivo.
"A construção de origamis de DNA sob encomenda é tão simples, que o método poderia tornar muito mais fácil para cientistas de diferentes campos, criar e estudar nanoestruturas complexas", disse Paul Rothemund, do Caltech. "Um físico, por exemplo, pode associar um ponto quântico (quantum-dot) semicondutor de tamanho nanométrico num padrão que pode criar um computador quântico. Um biólogo pode usar origâmi de DNA para ligar proteínas, as quais normalmente ocorrem separadas na natureza, e organizá-los em uma fábrica multienzimas que permitiria a obtenção de produtos químicos de uma "máquina enzimática" para a próxima, a exemplo de uma linha de montagem. Rothemund transformou filamentos de DNA em estruturas quadradas, faces sorridentes, estrelas, retângulos triângulos vazados, cada um com aproximadamente 100 nm. Baseou cada forma em um filamento individual de DNA com cerca de 7000 nucleotídeos (Um nucleotídeo é a unidade estrutural que aproxima o DNA e algumas outras moléculas biológicas). O assim chamado "filamento andaime" foi dobrado no formato desejado e mantido junto por um pequeno "filamento grampo" de DNA. "Em meu trabalho, bilhões de nanoestruturas de DNA foram produzidas em paralelo, rapidamente e sob condições brandas", disse Rothemund. "Os filamentos de componentes de DNA são misturados em uma pequena porção de água com sal, aquecida até próximo da ebulição, que é deixada esfriar por cerca de uma hora e meia". A incorporação de hélices de DNA permitiu a criação de padrões de pixel (ponto luminoso que, em conjunto com outros, forma uma figura) no topo das nanoestruturas, com um diâmetro de pixel de 6 nm. Assim, Rothemund criou um mapa do hemisfério ocidental e escreveu DNA com letras de 30 nanômetros de altura. Ele também uniu as nanoestruturas do origâmi, fazendo hexágonos, por exemplo, pela junção de triângulos de origâmi. "Outra virtude de meus experimentos é que uso o mesmo filamento individual longo repetidas vezes (a seqüência natural do vírus) e mudo exatamente os cerca de 200 "filamentos grampo" curtos, disse Rothemund. "Isto significa que não tenho que fazer como é costume, uma longa síntese toda vez que preciso fazer uma nova estrutura". As estruturas são atualmente limitadas em cerca de 100 nm pelo tamanho do filamento original individual de DNA disponível. "Sintetizar e purificar os filamentos individuais é certamente possível: agora mesmo, as pessoas manipulam costumeiramente filamentos duplos de DNA", afirmou Rothemund. "Se pudéssemos usar filamentos individuais com milhões de bases de comprimento, então poderíamos criar um origâmi DNA (estrutura) com um mícron de lado, com cerca de 20.000 pixels. Isso parece viável e poderá ser feito nos próximos anos". Além do mais, o método do origami poderá ser estendido continuamente para criar estruturas tridimensionais (3D).
Por que a Auto Organização?
Então porque muitos sistemas biológicos utilizam a auto-organização em detrimento de outros mecanismos. Quais suas vantagens? O motivo é que as regras que regulam sistemas auto-organizados são bastante econômicas, e por isso facilmente efetuada no comportamento e na fisiologia dos organismos que as usam. Assim sendo, é de esperar que a natureza tenha favorecido sistemas auto-organizados, nos quais cada indivíduo segue um conjunto de regras simples, mas que a interação com outros indivíduos possibilita a criação de padrões complexos. Concluindo, a Ciência descobriu que a natureza utilizou a “criatividade” talvez tenha construído “origamis” orgânicos atingindo a complexidade observada na atualidade.
Fontes:

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